Kitniyot
Kitniyot
Todos conhecem o costume de não se comer kitniyot em Pêssach. De onde isto surgiu? Por quê? Quais alimentos estão inclusos nesta proibição? Sobre quem se aplica esta proibição?
O costume de não comer kitniyot surgiu por volta do século XIV ou XV, na época do Maharil. Este costume foi aceito entre os ashkenazim. Kitniyot inclui: arroz, trigo-sarraceno, painço, feijão, lentilha, ervilha e mostarda, entre outros. Embora não comer kitniyot é um rigor, é proibido a um ashkenazi ser leniente quanto a este costume. (Pode-se dizer que é o costume mais forte em nosso povo, que praticamente quase virou lei).
O Aruch Hashulchan escreve que "...ser leniente quanto a isto atesta a falta de temor a D'us e temor ao pecado...". Mais ainda escreve: "este costume é seguido em toda a Alemanha, França, Rússia e Polônia e por todos descendentes. Uma cobra deveria picar quem se desvia disso".
Entre os sefaradim este costume não foi adotado e, portanto os sefaradim podem ingerir kitniyot. Contudo, muitos legisladores dizem que mesmo os sefaradim não devem comer arroz. De fato há muitos sefaradim que costumam não consumir arroz em Pêssach. Os sefaradim ao prepararem qualquer tipo de kitniyot para comer, devem se certificar que não há nenhum grão das cinco espécies (trigo, cevada, aveia, centeio e espelta), que podem tornar-se chamets, misturado.
Quais as razões?
Alguns explicam que o motivo para este rigor é por ser muito comum plantação de kitniyot em campos onde se planta as 5 espécies que viram chamets (trigo, cevada, aveia, centeio e espelta). Uma vez que pode haver mistura destes grãos, nossos Sábios z"l proibiram ingeri-los.
Outros explicam que pelo fato de se produzir farinha de kitniyot e desta processar-se pães (ou outros tipos de massas) se um ignorante vir alguém comendo dos mesmos, poderá concluir erroneamente ser permitido comer pão chamets em Pêssach.
A partir de quando?
Não se ingere kitniyot a partir do horário em que chamets passa a ser proibido na véspera de Pêssach.
O que mais é considerado kitniyot?
Arroz, trigo-sarraceno, painço, feijão, lentilha, ervilha, mostarda, broto de feijão, óleo de canola, cominho, alcarávia (kümmel), grão de bico, milho, xarope de milho, dextrose (quando produzida à base de kitniyot), emulsificantes, anis, fenogrego, linhaça, feijão verde, goma-guar, lecitina, alcaçuz, pipoca, papoula, açafrão, sementes de gergelim, soja, óleo de soja, broto de alfafa, vagem, sementes de girassol e tofu.
No entanto, café, chá, alho e rabanete, por exemplo, não estão inclusos no rigor de kitniyot.
Especiarias também não estão inclusas neste rigor, embora seja necessário verificar a ausência de qualquer grão chamets nestas.
Batatas
Alguns legisladores incluem as batatas neste costume de proibição de kitniyot, uma vez que se produz farinha de batata que pode ser confundida com farinha de grãos. Contudo, esta opinião não foi aceita.
O Rav Moshe Feinstein zts"l (Igrot Moshe OC 3:63) explica que só se define algo como kitniyot se há um costume estabelecido por escrito ou tradição. Uma vez que o costume de kitniyot data da época do Maharil e as batatas só apareceram na Europa depois, no século XVI, a batata não foi inclusa neste rigor.
Amendoim
Quanto ao amendoim há uma discussão. Há os que incluem na lista e proíbem sua ingestão. Já o Rav Moshe Feinstein zts"l diz que quem já costuma não comer - deve manter o seu costume. Contudo, pessoas que não tem costume quanto ao amendoim, podem ingeri-lo.
Papel toalha
Pode-se colocar comida diretamente sobre papel toalha sem se preocupar se o mesmo pode conter amido. Não há rigor, proibição ou costume em prevenir a queda de kitniyot na comida. De fato o Shulchan Aruch (código de leis) permite usar uma lamparina com óleo de kitniyot, embora seja certo que respingará do óleo sobre os alimentos. No caso do papel toalha, não é certo que haverá qualquer lixiviação para o alimento. Até hoje ninguém comprovou que há lixiviação de sequer uma molécula de amido do papel para o alimento. (Rav Yisroel Belsky shlit"a. O amido é tão firmemente ligado ao papel que nem um teste de iodo revela a sua presença no papel.)
Derivados de Kitniyot
Embora a opinião do Rav Kuk zts"l era permitir o uso de derivados de kitniyot, o costume é proibir derivados também.
Óleo de oliva, palma, coco e nozes - são permitidos em Pêssach e não entram na categoria de kitniyot.
Óleo de algodão: o Minchat Yitschak fica incerto quanto à permissão de usar. O Rav Auerbach zts"l dizia que é melhor evitar. Já o Tzelmer Rav zts"l permite o uso. Contudo, nos Estados Unidos o costume é permitir o uso de óleo de algodão, baseado na opinião do Rav Moshe Feinstein zts"l e Rav Yaakov Kaminetski zts"l e outros rabinos que vieram da Europa.
Um outro exemplo de derivado de kitniyot é o xarope de milho. A maioria dos legisladores o considera kitniyot e proíbem ingeri-lo em Pêssach.
A maioria das grandes supervisões de kashrut do mundo não certificam produtos para Pêssach feitos de derivados de kitniyot.
Contudo, supervisões sefaradiot aprovam. Portanto, os ashkenazim devem ficar atentos. Geralmente está escrito no rótulo "Kasher para quem consome Kitniyot" (כשר לאוכלי קטניות).
Kitniyot shenishtanú - Kitniyot que sofreram mudança
O costume é permitir o uso de kitniyot shenishtanú - ou seja, sofreram uma mudança significativa em seu sabor. Alguns são rigorosos mesmo com isto e não certificam alimentos que contenham kitniyot shenishtanú.
Sorbitol e dextrose feitas a partir de xarope de milho não são considerados kitniyot shenishtanú e por conseguinte estão sujeitos às leis de kitniyot. Porém, xarope de milho transformado em ácido ascórbico é considerado uma mutação e é permitido seu uso em Pêssach.
Kitniyot shenishtanu tem um papel importante na aprovação de refrigerantes diet fabricados com aspartame. Aspartame é uma enzima doce que cresce em derivados de kitniyot. Alguns como a Kof-K e OU certificam produtos com aspartame para Pêssach, enquanto que o Rav Landau em Israel não certifica refrigerantes diet para Pêssach por levarem aspartame em sua composição.
Outros ingredientes que entram na categoria de kitniyot shishtanu é a maltodextrina, polissorbatos, citrato de sódio e goma xantana.
Quinoa
Quinoa é uma semente do tamanho de um gergelim, da família da beterraba e não se parece com nenhum grão de chamets ou kitniyot.
Há uma discussão se é permitido o uso da quinoa em Pêssach, uma vez que ele é usado da mesma forma que o trigo. Por este motivo, de uma forma geral o costume é proibir o uso para pessoas com saúde e apenas permitir o seu uso a pessoas com problemas de saúde.
Proveito
Mesmo conforme as opiniões mais rigorosas, kitniyot não são chamets, portanto embora seja proibido comer é permitido ter proveito de kitniyot em Pêssach. Baseado nisso, uma pessoa pode alimentar seus animais com alimentos kitniyot. Da mesma forma, se um produto contem apenas kiniyot e não chamets, pode manter em casa durante Pêssach sem precisar incluir na venda para o goi (se não tiver certeza da ausência de chamets, deverá vender).
Crianças
Uma pessoa pode dar a uma criança comer kitniyot, inclusive fórmulas para bebês que contenham kitniyot. Não há idade máxima para esta permissão; enquanto for criança e necessitar, poderá comer. Alguns dizem ser apropriado ter pratos separados para que a criança coma kitniyot e lavá-los em pia separada.
Doentes - D'us nos livre
Uma pessoa que está doente, mesmo que não em perigo de vida, pode comer kitniyot em Pêssach. Baseado nisso, um doente pode tomar remédios que contenham kitniyot.
Mulheres
Uma mulher de casa sefaradi que sempre comeu kitniyot, não poderá mais comer ao casar com um ashkenazi. Contudo, se o seu marido permitir, poderá comer kitniyot como antes de se casar. Uma mulher de casa ashkenazi, ao casar-se com um sefaradi poderá passar a comer kitniyot, e neste caso não precisará fazer hatarat nedarim (anulação de promessas).
Ashkenazi na casa de um Sefaradi
Um ashkenazi que vai à casa de um sefaradi em Pêssach, não pode comer kitniyot, mas pode comer os demais alimentos mesmo que foram cozidos em panelas em que tinham sido cozidos kitniyot antes. Outros dizem que só pode ser leniente em comer o que foi cozido em panelas que não são bat-yoma (não foram utilizadas com kitniyot nas últimas 24h).
Bitul
Kitniyot tem lei de bitul berov (anulação em maioria). Ou seja, se misturou kitniyot por engano em algum alimento, verificamos se a maioria for do alimento permitido, esta mistura pode ser ingerida em Pêssach. Portanto, não se faz necessário bitul beshishim (anulação em 60 vezes).
Muktsê
Kitniyot para um ashkenazi no Yom Tov não são considerados muktsê, uma vez que pode dar a um sefaradi. Além disso, podem ser dados a uma criança que necessita como vimos acima.
Baseado no texto "Halachically Speaking" vol 4 Issue 10 do Rabino Moishe Dovid Leibovits